AVC em idosos: como reconhecer e prevenir?
O acidente vascular cerebral (AVC) é uma doença que se caracteriza pela interrupção da oxigenação do tecido cerebral de alguma área do cérebro, com consequente perda de determinadas funções a essa área relacionadas, representa uma das principais causas de morte no mundo e no Brasil. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), no mundo, cerca de 16 milhões de pessoas sofrem um AVC a cada ano, sendo que destas mais de 6 milhões acabam por falecer. No Brasil, a doença cerebrovascular representa a primeira causa de morte, totalizando cerca de 68 mil mortes por ano. Além do risco de morte, a doença provoca uma série de incapacidades e compromete, de forma bastante significativa, a qualidade de vida dos indivíduos acometidos.
Existem dois tipos diferentes de acidente vascular cerebral. O mais comum deles é o AVC isquêmico, responsável por mais de 80% dos casos, e que se caracteriza pela interrupção da oxigenação do tecido cerebral em decorrência de uma obstrução ao fluxo sanguíneo, causada pela presença de um trombo (coágulo que se forma dentro do vaso sanguíneo daquela região cerebral) ou um êmbolo (coágulo que se desenvolve em outra região do organismo, se desprende, percorre a circulação sanguínea até obstruir um outro vaso).
O segundo tipo é o AVC hemorrágico, responsável por cerca de 20% dos casos e que ocorre quando há extravasamento de sangue em um determinado território cerebral em consequência da ruptura de algum vaso sanguíneo. A região afetada deixa de ser oxigenada e passa também a sofrer os efeitos da compressão do tecido cerebral pelo sangue estravasado.
Quais os fatores de risco?
No contexto das mudanças no panorama do envelhecimento populacional global, a relevância da doença se torna cada vez maior. A doença cerebrovascular tem como um dos principais fatores de risco o aumento da idade. O risco de ocorrência de um AVC aproximadamente dobra a cada década de vida após os 55 anos. Existem ainda outros fatores de risco que também não podem ser modificados, tais como os étnicos (neste caso a raça negra) e a existência de história familiar presente (avós, pais ou irmãos).
Entretanto, são os fatores de risco modificáveis que, associados à idade, têm gerado grande impacto tanto na ocorrência quanto na evolução do acidente vascular cerebral. Hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, tabagismo, dislipidemia (alteração nos níveis de colesterol e triglicérides), arritmias cardíacas (dentre as quais a fibrilação atrial se destaca), obesidade, sedentarismo, dieta inadequada (rica em sal, gorduras saturadas, excessivamente calórica), doença arterial carotídea estão entre os principais fatores de risco passíveis de mudança e/ou tratamento.
A hipertensão arterial sistêmica é o principal fator de risco para o AVC. De acordo com dados da OMS, em 2008 havia no mundo cerca de 1 bilhão de pessoas com hipertensão não controlada, sendo ela responsável por aproximadamente 50% dos casos de AVC isquêmico, aumentando também o risco para o AVC hemorrágico.
O diabetes mellitus também se destaca entre os fatores de risco. A probabilidade de um evento cerebrovascular isquêmico é duas vezes maior em pacientes diabéticos. Outros importantes fatores de risco relacionados ao AVC isquêmico são as arritmias cardíacas, dentre as quais a fibrilação atrial assume maior relevância. Essa arritmia causa um risco aumentado de formação de coágulos no interior do coração, mais especificamente no atrio esquerdo, que podem percorrer a corrente sanguínea e ocluir um vaso arterial à distância. Na maioria destes casos é um vaso cerebral que é acometido. O AVC provodado pela fibrilação atrial é em geral mais grave, deixando sequelas mais importantes.
Ainda como fator de risco bastante significativo está o tabagismo. As substâncias existentes no cigarro geram reações inflamatórias e lesões nas paredes dos vasos sanguíneos, favorecendo a formação das placas ateroscleróticas, que podem acabar por obstruir as artérias.
Como é a manifestação de um AVC?
Reconhecer rapidamente os sinais de um acidente vascular cerebral e encaminhar o paciente para o tratamento o mais precocemente possível é a principal forma de se evitar quadros mais graves e sequelas mais significativas após a instalação da doença. Início súbito de sensação de dormência, fraqueza, dificuldade para movimentar a face, braços e/ou pernas em um lado do corpo são alguns dos sintomas frequentemente associados ao evento. Dificuldade na fala, alterações visuais, cefaleia e oscilações no nível de consciência são também manifestações comuns.
O tratamento do AVC agudo objetiva manter a estabilidade clínica do paciente, protegendo as vias aéreas e a respiração, controlando a pressão arterial quando indicado, estabilizando quaisquer condições clínicas que possam agravar o quadro, além de identificar qual é o tipo de acidente vascular (isquêmico ou hemorrágico), com a finalidade de indicar o tratamento específico para cada tipo e definir a causa do evento. Após o controle da fase aguda, o tratamento das causas do acidente vascular é fundamental para prevenir novos episódios.
Como prevenir?
Considerando ser a hipertensão arterial uma das principais causas de AVC, seu tratamento é imperativo. Deve-se tentar alcançar uma pressão arterial abaixo de 140 x 90 mmHg. Para isso, um grande arsenal de medicamentos anti-hipertensivos está disponível no mercado.
Nos casos em que o mecanismo da doença envolve a existência de arritmias cardíacas, em especial a fibrilação atrial, o tratamento com medicações antiarrítmicas e anticoagulantes, que visam manter o coração num ritmo regular e impedir a formação de coágulos é de extrema importância.
Outras medidas como o controle rigoroso do diabetes mellitus, das alterações do colesterol e triglicérides, a cessação do tabagismo e o controle alimentar são também fundamentais para a diminuição do risco de AVC.
Sendo assim, manter um estilo de vida saudável, com uma dieta balanceada, sem excesso de sal e gorduras, com atividade física regular, livre do cigarro e do consumo excessivo de álcool, além da realização de acompanhamento médico regular, com tratamento das condições que coloquem o indivíduo sob risco de um AVC são as medidas mais eficazes de prevenção dessa doença tão comum e devastadora em todo o mundo.
Esse artigo foi escrito com a colaboração de Silvia Takahashi Ribeiro e Prado, especialista em geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e médica do Instituto Longevità.